28 de dezembro de 2011

Dilma afirma que economia pode crescer a um ritmo de até 6% em 2012

A presidente Dilma Rousseff acredita ter liquidado, ao longo do primeiro ano de mandato, a herança maldita deixada pelo antecessor na economia, principalmente na disparada da inflação. Após o esforço para arrumar a casa, ela está confiante de que reuniu todas as condições para fazer o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país) crescer a taxas mais robustas a partir de 2012 — a expectativa é de um ritmo perto de 6% no segundo semestre do ano que vem. O combustível da locomotiva será o investimento público em infraestrutura.

Técnicos da área econômica disseram ao Correio que a estratégia de frear a expansão da economia para o nível atual de até 3% anuais foi vitoriosa, pois conseguiu domar a escala de preços iniciada no último ano da Era Lula. Na avaliação interna, o descontrole foi resultado do afrouxamento fiscal de 2010 — a gastança estimulou o crescimento do PIB, que fechou o ano com alta histórica de 7,5%, e a eleição da própria Dilma.

“A decisão mais importante para frear o crescimento em 2011 foi dar um tranco nos investimentos da União, adiando R$ 50 bilhões para o próximo ano”, salientou um importante membro da equipe econômica. De janeiro a novembro, os gastos federais caíram 2,7%, mas a tendência se inverterá logo no começo de 2012. A intenção de recolocar a economia nos trilhos ficou evidente já no fim do ano passado com as travas impostas ao crédito. As medidas anunciadas pelo Banco Central (BC) para conter o crédito e o consumo foram acompanhadas da elevação dos juros até julho.

Isso deixou a economia estagnada no terceiro trimestre. “Aliado à perda de dinamismo do investimento, o PIB este ano dificilmente crescerá 3%”, reconheceu. O cenário que Dilma vislumbra agora é bem diferente. O retorno ao investimento não levará ao salto expressivo do PIB de 2010, mas garantirá expansão em torno de 3,5%, com uma vantagem: a inflação caindo para 4,7%, muito perto do centro da meta (4,5%). O BC prevê aumento de 3,2% do consumo do governo em 2012, ante os 2% deste ano. Não fossem as medidas do primeiro semestre, a inflação estaria beirando os dois dígitos, um preço alto demais até para justificar o esforço de eleger a candidata de Lula.

Outra convicção do governo é a de que o controle fiscal ao longo do ano, depois da ressaca de 2010, foi condição básica para estabilizar os indicadores de preços e vencer a permanente desconfiança do mercado. Ajudado pelo aumento de pelo menos R$ 10 bilhões em arrecadação de tributos, o superavit primário — a economia de recursos para pagar juros da dívida pública — vai superar a meta para o ano, cobrindo a diferença do esforço não cumprido por estados e municípios. O saldo do governo central já passou a meta de R$ 91,7 bilhões até a terceira semana de dezembro. O objetivo para o setor público (União, estados e municípios) é de R$ 127 bilhões.

Pela mesma razão, o governo se empenhou com firmeza para impor ao Congresso a proibição de novos aumentos nos gastos correntes em 2012, sobretudo de salários de servidores. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou os aumentos de gastos fixos como o “principal risco para a economia brasileira na atualidade”. Ontem, ele disse que o PIB nacional deve superar o da França antes de 2015, tornando-se o quinto maior do mundo — neste ano, deixou o sétimo lugar para o Reino Unido. “Nosso ritmo será o dobro dos países europeus. Portanto, é inexorável que nós passemos a França e, quem sabe, talvez a Alemanha, se ela não tiver um desempenho melhor”, disse.

Receita

O resumo da receita de Dilma é mesmo frear reajustes com a folha de pagamentos e priorizar os investimentos em infraestrutura. Trata-se, segundo os técnicos, de uma engenhosa mudança na estrutura de gastos da máquina pública com resultados duradouros, sobretudo os que serão obtidos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que aplicará R$ 79,7 bilhões em obras.

As autoridades estão preocupadas com os impactos da crise internacional, mas contam com dinheiro em caixa e juros declinantes para vencê-los. Com isso, o Palácio do Planalto espera assistir à volta do espetáculo do crescimento no segundo semestre de 2012, ao ritmo de 5% a 6%.

Antes de entrar de férias com a família na Bahia, onde fica até o dia 9, a presidente avisou que não descansará enquanto não tirar 16 milhões de brasileiros da miséria. A marca publicitária de seu governo não esconde, contudo, sua preocupação em dar novo rumo à economia. Prova disso foi a decisão de Dilma de reajustar o salário mínimo para R$ 622.

O aumento válido a partir de janeiro é o primeiro da administração petista a não arredondar o piso salarial para um múltiplo de R$ 5, prática justificada como forma de facilitar saques em caixas eletrônicos. Só os R$ 3 a menos garantirão economia de R$ 900 milhões nos cofres do governo no ano que vem. O valor é modesto para um Orçamento de quase R$ 1 trilhão, mas não deixa de ser emblemático como compromisso de ajuste.

Fonte: Correio Braziliense

28 de dezembro de 2011